Praticas sociais, politicas publicas e valores humanos (Versão provisoria)

A comunicação trata da relação entre as práticas das organizações sociais e a produção de valores humanos no meio rural, mais precisamente, no campo do desenvolvimento da agricultura familiar no Brasil. Coloco a questão da mobilização de certas práticas e de certos valores para renovar instrumentos de políticas públicas. Por valores humanos, conforme Blais, (1980)2, faço referência aos valores fundamentais e universais, reconhecidos em todas as sociedades e civilizações, embora de maneira diversa: confiança, responsabilidade, justiça, reputação, amizade, etc. As transformações e a modernização da agricultura, em particular da agricultura camponesa e familiar, estão ligadas, entre outros, a processos de ação coletiva e de inovação institucional (Abramovay e Veiga, 1999, Abramovay, 2005; Sabourin et al, 2005). Neste contexto, as organizações de agricultores são mobilizadas em dois tipos de circunstancias: i) para assumir funções de interesse geral que eram antes da responsabilidade do Estado ou que deveriam sê-lo, ii) para participar da elaboração ou da gestão de projetos ou programas de desenvolvimento local, territorial ou de manejo de recursos naturais (Sabourin et al., 2004). Essa nova agenda foi, aliás, amplamente justificada pelas agências internacionais e nacionais de desenvolvimento, na base das virtudes associadas ao capital social das comunidades rurais e das suas organizações (World Bank, 1997 & 2000; PNUD, 2000; Incra, 1999; MDA, 2003). Todas as referências sobre as fontes do capital social remetem para a mobilização de valores humanos (confiança, responsabilidade, solidariedade, justiça, etc) associados às praticas sociais e culturais das comunidades locais. Mas, apesar dessa redescoberta das "virtudes" econômicas das relações humanas, poucos autores explicam a origem, não tanto do capital social, mas desses valores dos quais ele estaria emergindo. Na primeira parte, examino explicações sobre a origem dos valores humanos, em particular a partir das relações e prestações de reciprocidade no meio rural brasileiro. A segunda parte trata de políticas públicas inspiradas por valores de justiça, equidade, responsabilidade e solidariedade. Analiso também, como tais práticas e valores podem contribuir para renovar as políticas de desenvolvimento rural, em termos de articulação entre a economia de intercâmbio e a economia de reciprocidade.

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Bibliographic Details
Main Author: Sabourin, Eric
Format: conference_item biblioteca
Language:por
Published: s.n.
Subjects:E14 - Économie et politique du développement, E10 - Économie et politique agricoles, E50 - Sociologie rurale,
Online Access:http://agritrop.cirad.fr/530209/
http://agritrop.cirad.fr/530209/1/document_530209.pdf
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Description
Summary:A comunicação trata da relação entre as práticas das organizações sociais e a produção de valores humanos no meio rural, mais precisamente, no campo do desenvolvimento da agricultura familiar no Brasil. Coloco a questão da mobilização de certas práticas e de certos valores para renovar instrumentos de políticas públicas. Por valores humanos, conforme Blais, (1980)2, faço referência aos valores fundamentais e universais, reconhecidos em todas as sociedades e civilizações, embora de maneira diversa: confiança, responsabilidade, justiça, reputação, amizade, etc. As transformações e a modernização da agricultura, em particular da agricultura camponesa e familiar, estão ligadas, entre outros, a processos de ação coletiva e de inovação institucional (Abramovay e Veiga, 1999, Abramovay, 2005; Sabourin et al, 2005). Neste contexto, as organizações de agricultores são mobilizadas em dois tipos de circunstancias: i) para assumir funções de interesse geral que eram antes da responsabilidade do Estado ou que deveriam sê-lo, ii) para participar da elaboração ou da gestão de projetos ou programas de desenvolvimento local, territorial ou de manejo de recursos naturais (Sabourin et al., 2004). Essa nova agenda foi, aliás, amplamente justificada pelas agências internacionais e nacionais de desenvolvimento, na base das virtudes associadas ao capital social das comunidades rurais e das suas organizações (World Bank, 1997 & 2000; PNUD, 2000; Incra, 1999; MDA, 2003). Todas as referências sobre as fontes do capital social remetem para a mobilização de valores humanos (confiança, responsabilidade, solidariedade, justiça, etc) associados às praticas sociais e culturais das comunidades locais. Mas, apesar dessa redescoberta das "virtudes" econômicas das relações humanas, poucos autores explicam a origem, não tanto do capital social, mas desses valores dos quais ele estaria emergindo. Na primeira parte, examino explicações sobre a origem dos valores humanos, em particular a partir das relações e prestações de reciprocidade no meio rural brasileiro. A segunda parte trata de políticas públicas inspiradas por valores de justiça, equidade, responsabilidade e solidariedade. Analiso também, como tais práticas e valores podem contribuir para renovar as políticas de desenvolvimento rural, em termos de articulação entre a economia de intercâmbio e a economia de reciprocidade.