Aqui até o arado é diferente: transformações no fazer agricultura e em hábitos alimentares entre famílias assentadas - um estudo realizado no assentamento União, Rio Grande do Sul. - ARTIG

Inserido no contexto de assentamentos de reforma agrária, o estudo pretende analisar transformações no fazer agricultura e nos hábitos alimentares entre famílias rurais assentadas. Primeiramente são analisados os espaços de trabalho que conformam o lote, tendo presentes as relações de gênero. As trajetórias das famílias estudadas, desde seu local de origem até o assentamento, também constituem objeto de investigação, com especial atenção às relações entre pessoas e objetos. Na sequência, o olhar se volta para a lavoura, especificamente para o fazer agricultura tal como praticado no local de origem e no assentamento, atentando para as continuidades e descontinuidades. Das transformações na lavoura, referentes aos modos de produzir e ao que é produzido, a observação é conduzida para a mesa, mais precisamente às transformações nos hábitos alimentares das famílias assentadas. Ao mesmo tempo em que é notada a permanência de saberes e práticas alimentares, evidencia-se que tais transformações são operadas a partir da inviabilidade produtiva, no contexto do assentamento, de determinados alimentos habitualmente consumidos no local de origem – a exemplo da cana-de-açúcar e seus derivados –, mas também da incorporação ao consumo de novos alimentos, especialmente produtos industrializados. A construção deste trabalho se deu a partir de pesquisa etnográfica realizada no período compreendido entre novembro de 2012 e dezembro de 2013 junto a famílias rurais do assentamento União, localizado no município de Canguçu, Rio Grande do Sul? Qual Objetivo Primário Artigo? O presente estudo busca analisar transformações no fazer agricultura e nos hábitos alimentares entre famílias rurais assentadas? Que Problemas o Artigo deve Resolver? A proposta de pesquisa parte do entendimento de que estudos na escala do local, não entendidos como desvinculados do contexto mais amplo, são importantes para a compreensão do que e como as pessoas pensam, produzem, comem, bem como as relações que conformam o grupo ou comunidade. Entendemos que, ao dar visibilidade à lavoura e à mesa de famílias rurais assentadas, apresentamos subsídios para pensar projetos, políticas públicas que contemplam, mesmo que em parte, a diversidade e as especificidades presentes nos assentamentos de reforma agrária? omo se Logrou Resolver os Problemas e Atingir os Objetivos? A partir da problemática e objetivo desenhados a pesquisa de mestrado foi realizada no município gaúcho de Canguçu. E teve como universo empírico as famílias do assentamento União e como primeira aproximação a esse campo a Escola Estadual de Ensino Fundamental Orestes Paiva Coutinho. Ainda, realizou-se uma inserção a campo em um dos municípios de origem das famílias estudadas, em Três Palmeiras -RS.  A construção do trabalho se deu a partir de pesquisa etnográfica, em que se utilizou de diário de campo, entrevistas, desenhos realizados por alunos assentados em atividades realizadas na Escola e registro fotográfico? Quais Resultados mais Relevantes? No contexto do assentamento, as primeiras lavouras preparadas na nova terra tiveram como base os conhecimentos e os tempos de plantio praticados no local de origem. Esse foi um dos fatores que levou as famílias a investirem recursos e não terem retorno, pois suas práticas e conhecimentos não condiziam com a realidade em que foram assentados. Além de tempos desencontrados, suas ferramentas não lhes possibilitavam trabalhar a terra e, assim, foi sendo substituídos o arado pula toco pelo arado virador, a carreta de rodas de pneu pela de roda de ferro. Do mesmo modo, foi preciso repensar os cultivos a serem plantados, pois a soja e o trigo, principais produtos destinados à comercialização no local de origem, não se desenvolveram na nova terra ou demandavam alto investimento em correção de solo e maquinário, recursos que os recém assentados não dispunham.O mesmo ocorreu com a cana-de-açúcar, cujos derivados tinham grande importância na alimentação diária, mas cujo cultivo não se desenvolveu na maioria dos lotes? Ao voltarmos o olhar para a mesa das famílias estudadas, analisamos a comida do local de origem, onde a produção estava direcionada para a autossuficiência das famílias, sendo adquirido na venda apenas o que não se produzia em casa, a própria comida constituindo-se como moeda de troca. Já no contexto do assentamento, percebe-se que determinados alimentos consumidos no local de origem não compõem as refeições das famílias assentadas, como os derivados da cana-de-açúcar, dadas as dificuldades em sua produção. Outros alimentos passaram a ser consumidos com menor frequência, como as frutas, cujas variedades produzidas e consumidas no local de origem não se desenvolveram no assentamento. Ocorreu, também, a redução no consumo de derivados do milho, em virtude da perda de sementes que produziam farinha de milho de qualidade. Atualmente a mesa das famílias estudadas é conformada por um cardápio híbrido (Ramos, 2007), constituído por alimentos produzidos no lote e industrializados, adquiridos no supermercado?

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Détails bibliographiques
Auteurs principaux: 54221 Carmen Janaina Batista Machado, IICA, Brasília, D.F. (Brasil) 49
Format: Texto biblioteca
Langue:por
Publié: Brasil IICA 2015
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Résumé:Inserido no contexto de assentamentos de reforma agrária, o estudo pretende analisar transformações no fazer agricultura e nos hábitos alimentares entre famílias rurais assentadas. Primeiramente são analisados os espaços de trabalho que conformam o lote, tendo presentes as relações de gênero. As trajetórias das famílias estudadas, desde seu local de origem até o assentamento, também constituem objeto de investigação, com especial atenção às relações entre pessoas e objetos. Na sequência, o olhar se volta para a lavoura, especificamente para o fazer agricultura tal como praticado no local de origem e no assentamento, atentando para as continuidades e descontinuidades. Das transformações na lavoura, referentes aos modos de produzir e ao que é produzido, a observação é conduzida para a mesa, mais precisamente às transformações nos hábitos alimentares das famílias assentadas. Ao mesmo tempo em que é notada a permanência de saberes e práticas alimentares, evidencia-se que tais transformações são operadas a partir da inviabilidade produtiva, no contexto do assentamento, de determinados alimentos habitualmente consumidos no local de origem – a exemplo da cana-de-açúcar e seus derivados –, mas também da incorporação ao consumo de novos alimentos, especialmente produtos industrializados. A construção deste trabalho se deu a partir de pesquisa etnográfica realizada no período compreendido entre novembro de 2012 e dezembro de 2013 junto a famílias rurais do assentamento União, localizado no município de Canguçu, Rio Grande do Sul? Qual Objetivo Primário Artigo? O presente estudo busca analisar transformações no fazer agricultura e nos hábitos alimentares entre famílias rurais assentadas? Que Problemas o Artigo deve Resolver? A proposta de pesquisa parte do entendimento de que estudos na escala do local, não entendidos como desvinculados do contexto mais amplo, são importantes para a compreensão do que e como as pessoas pensam, produzem, comem, bem como as relações que conformam o grupo ou comunidade. Entendemos que, ao dar visibilidade à lavoura e à mesa de famílias rurais assentadas, apresentamos subsídios para pensar projetos, políticas públicas que contemplam, mesmo que em parte, a diversidade e as especificidades presentes nos assentamentos de reforma agrária? omo se Logrou Resolver os Problemas e Atingir os Objetivos? A partir da problemática e objetivo desenhados a pesquisa de mestrado foi realizada no município gaúcho de Canguçu. E teve como universo empírico as famílias do assentamento União e como primeira aproximação a esse campo a Escola Estadual de Ensino Fundamental Orestes Paiva Coutinho. Ainda, realizou-se uma inserção a campo em um dos municípios de origem das famílias estudadas, em Três Palmeiras -RS.  A construção do trabalho se deu a partir de pesquisa etnográfica, em que se utilizou de diário de campo, entrevistas, desenhos realizados por alunos assentados em atividades realizadas na Escola e registro fotográfico? Quais Resultados mais Relevantes? No contexto do assentamento, as primeiras lavouras preparadas na nova terra tiveram como base os conhecimentos e os tempos de plantio praticados no local de origem. Esse foi um dos fatores que levou as famílias a investirem recursos e não terem retorno, pois suas práticas e conhecimentos não condiziam com a realidade em que foram assentados. Além de tempos desencontrados, suas ferramentas não lhes possibilitavam trabalhar a terra e, assim, foi sendo substituídos o arado pula toco pelo arado virador, a carreta de rodas de pneu pela de roda de ferro. Do mesmo modo, foi preciso repensar os cultivos a serem plantados, pois a soja e o trigo, principais produtos destinados à comercialização no local de origem, não se desenvolveram na nova terra ou demandavam alto investimento em correção de solo e maquinário, recursos que os recém assentados não dispunham.O mesmo ocorreu com a cana-de-açúcar, cujos derivados tinham grande importância na alimentação diária, mas cujo cultivo não se desenvolveu na maioria dos lotes? Ao voltarmos o olhar para a mesa das famílias estudadas, analisamos a comida do local de origem, onde a produção estava direcionada para a autossuficiência das famílias, sendo adquirido na venda apenas o que não se produzia em casa, a própria comida constituindo-se como moeda de troca. Já no contexto do assentamento, percebe-se que determinados alimentos consumidos no local de origem não compõem as refeições das famílias assentadas, como os derivados da cana-de-açúcar, dadas as dificuldades em sua produção. Outros alimentos passaram a ser consumidos com menor frequência, como as frutas, cujas variedades produzidas e consumidas no local de origem não se desenvolveram no assentamento. Ocorreu, também, a redução no consumo de derivados do milho, em virtude da perda de sementes que produziam farinha de milho de qualidade. Atualmente a mesa das famílias estudadas é conformada por um cardápio híbrido (Ramos, 2007), constituído por alimentos produzidos no lote e industrializados, adquiridos no supermercado?