AVALIAÇÃO ERGONÓMICA DAS TAREFAS EXECUTADAS NO SETOR DA TATUAGEM: PODEM-SE USAR OS MÉTODOS OWAS E REBA?

RESUMO Introdução/ enquadramento/ objetivos Dado o setor da Tatuagem estar ainda pouco estudado no contexto da Saúde Ocupacional, pretendeu-se com este trabalho avaliar sumariamente o Risco Ergonómico do setor, até porque em Tatuagens complexas e/ ou extensas/ demoradas, o profissional pode ter necessidade de executar o seu trabalho com posturas forçadas/ mantidas e movimentos repetitivos, por períodos prolongados, sendo que, por vezes, nem sempre estão desenvolvidas de forma adequada as medidas de proteção. Metodologia Após listagem das principais tarefas genéricas no setor da Tatuagem, aplicaram-se dois métodos para análise ergonómica sumária: OWAS (Ovaco Working Analysis System) e REBA (Rapid Entire Body Assessment). Conteúdo Em função do método OWAS verificou-se que as tarefas iniciais (desenhar o padrão em papel ou procurar o padrão no computador e passar tal para folhas de decalque) obtiveram os patamares mais baixos de risco (ou seja, 1); todas as restantes tarefas consideradas obtiveram o Nível de Ação 2, exceto a eventualidade do Tatuador ter de socorrer o cliente e, face à postura/ eventual sustentação de carga, obteve aqui a cotação de 4. Contudo, quando ponderado com o tempo que cada tarefa geralmente ocupa percentualmente, em relação ao turno de trabalho, a situação alterou-se, ou seja, esse Nível de Ação 4 desapareceu (porque o Tatuador conseguiria em alguns segundos ou, quando muito alguns minutos) colocar-se a si e ao cliente em postura menos forçada e sem sustentação de carga. Para além disso, com esse ajuste percentual, cerca de metade dos Níveis de Ação 2 passou para 1, mantendo-se no primeiro valor as tarefas desenhar o padrão a tatuar diretamente na pele, injetar pigmento na pele, limpar o pigmento excedente e a aplicação de outros agentes químicos, bem como a limpeza/ desinfeção/ esterilização das superfícies de trabalho e instrumentos de trabalho (incluindo aqui também a acomodação dos mesmos). Por sua vez, a metodologia REBA, originou resultados diferentes. Nenhuma das tarefas consideradas ficou com o Nível de Ação 0 e apenas uma ficou com o patamar mais elevado, ou seja, 4 (socorrer o cliente em caso de lipotimia/ síncope). No Nível de Ação 2 ficaram as tarefas depilar, desinfetar/ esterilizar a pele, passar o desenho da folha de decalque para o cliente, colocar agentes químicos na pele durante a Tatuagem para além do pigmento e limpar/ desinfetar/ esterilizar superfícies de trabalho. Por sua vez, no Nível de Ação 3 restaram a tarefa alternativa de desenhar o padrão que se vai tatuar diretamente na pele, inserir os desenhos nas folhas de decalque, preparar a bancada/ tabuleiro de trabalho, injetar o pigmento na pele, limpar da pele o pigmento excedente e limpar/ desinfetar/ esterilizar/ acomodar os instrumentos de trabalho. Conclusões Percebeu-se que a metodologia OWAS conseguiu valorizar melhor o risco, ponderando o tempo que essa tarefa ocupa, quando comparada à técnica REBA, ainda que não considerando a probabilidade de tal ocorrer ou não, em ambas as técnicas. No global, os resultados dispares eventualmente seriam atenuados se estas tarefas major se subdividissem em subtarefas; contudo, tal iria aumentar muito a complexidade destas avaliações ergonómicas, mesmo em postos de trabalho pouco diversificados e com relativamente poucas tarefas major. Para além disso, outra condição poderá ter enviesado os resultados de forma significativa: ou se avalia com rigor apenas e exatamente um momento único (correndo o risco de enviesar por o profissional se ter posicionado aí ou não de forma correta e não considerarmos o risco que outras posturas trariam à mesma tarefa, noutros momentos da Tatuagem e/ ou até com outros Tatuadores) ou, para tentar acautelar tal, consideramos sempre a possibilidade mais gravosa. Como o objetivo era retratar globalmente o setor da Tatuagem (e não um ou outro estúdio em particular), optou-se por abarcar todas as situações e, sendo várias possíveis, considerada sempre a mais gravosa. Para além disso, ainda que estes métodos permitam atenuar alguma subjetividade na avaliação de Riscos, esta não pode ser eliminada totalmente. Em situações de dúvida entre duas hipóteses da escala será possível que um avaliador menos experiente num momento opte por uma e, noutra tarefa equivalente, escolha a outra ou até que tal aconteça repetindo a avaliação exatamente da mesma tarefa, em momentos diferentes. Ainda assim, estes métodos e seus congéneres constituem uma ajuda preciosa na Avaliação de Riscos em Saúde Ocupacional.

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Bibliographic Details
Main Author: Santos,M
Format: Digital revista
Language:Portuguese
Published: Ajeogene Serviços Médicos Lda 2020
Online Access:http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-84532020000200190
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