Endocardite infecciosa: uma suspeita sempre presente

Introdução: O diagnóstico de endocardite infecciosa requer um elevado grau de suspeição para ser estabelecido atempadamente. O médico de família, conhecendo os fatores de risco de cada doente, está numa posição privilegiada para a suspeita clínica de endocardite, podendo desempenhar um papel fulcral no diagnóstico desta patologia. Descrição do Caso: Manuel, utente de 59 anos acompanhado na nossa consulta desde 2007, tem como antecedentes pessoais 3 episódios prévios de endocardite infecciosa, dois dos quais associados a prótese valvular colocada na sequência do primeiro episódio. Foi acompanhado na nossa consulta por um quadro de síndrome febril indeterminado, associado a parâmetros inflamatórios elevados, com dois ecocardiogramas negativos realizados a nível hospitalar. Por se tratar de um utente de risco elevado para recorrência de endocardite infecciosa, a médica de família nunca abandonou esta hipótese diagnóstica. Perante o quadro, pediu hemoculturas em ambulatório, que foram positivas para Enterococos faecalis. O doente foi novamente enviado ao hospital, desta vez realizando um ecocardiograma que revelou vegetação, tendo-se estabelecido o diagnóstico definitivo de endocardite infecciosa 20 dias após o início do quadro clínico. Foi internado e cumpriu antibioterapia. Contudo, no início do segundo mês de internamento, teve um episódio de AVC hemorrágico, tendo como consequências hemiparesia direita e disartria a longo prazo. Comentário: Apesar de se tratar de uma doença rara, a endocardite infecciosa associada a próteses valvulares está associada a elevada morbimortalidade. A forma de apresentação é variável, estando o médico dependente de um elevado grau de suspeição para conseguir estabelecer o diagnóstico atempadamente, minimizando as sequelas a longo prazo. Os critérios de Duke facilitam o estabelecimento adequado do diagnóstico; no entanto a sensibilidade destes critérios diminui em doentes com próteses valvulares. Trata-se de um quadro subagudo de endocardite, necessitando de 20 dias para se estabelecer o diagnóstico final, após o resultado de hemoculturas positivas. Foi a persistência da suspeita diagnóstica que permitiu o diagnóstico atempado.

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Bibliographic Details
Main Author: Ferreira,Ana Santos
Format: Digital revista
Language:Portuguese
Published: Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar 2013
Online Access:http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732013000100007
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