Alucinando uma pandemia: ensaio sobre as disputas pela realidade da Covid-19
Resumo O primeiro objetivo deste ensaio é delinear os fenômenos tidos como alucinatórios, essencialmente indistinguíveis da realidade, apresentando a forma como a definição do que chamo de mundo-em-si, externo ao indivíduo e alheio às simbolizações que se lhe podem atribuir, constitui-se como uma disputa pela própria substância da realidade. Discursos da saúde mental tornam-se privilegiados para a definição sobre quais mundos existem ou não, e a imanência da realidade é constante objeto de disputa. O segundo objetivo é demonstrar o argumento através da análise do fenômeno específico da gestão estatal da pandemia de Covid-19 no Brasil, descrevendo como o discurso pró-ciência, inicialmente utilizado para legitimar quarentenas restritivas, passou paulatinamente a justificar as reaberturas e flexibilizações em supostos cenários de estabilidade no número de mortos e de novos casos. Este movimento lançou vozes dissonantes a uma condição análoga à experimentação alucinatória da realidade.
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Published: |
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social - IFCH-UFRGS
2021
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oai:scielo:S0104-718320210001001292021-04-30Alucinando uma pandemia: ensaio sobre as disputas pela realidade da Covid-19Branco-Pereira,Alexandre alucinação realidade Covid-19 mundo-em-si Resumo O primeiro objetivo deste ensaio é delinear os fenômenos tidos como alucinatórios, essencialmente indistinguíveis da realidade, apresentando a forma como a definição do que chamo de mundo-em-si, externo ao indivíduo e alheio às simbolizações que se lhe podem atribuir, constitui-se como uma disputa pela própria substância da realidade. Discursos da saúde mental tornam-se privilegiados para a definição sobre quais mundos existem ou não, e a imanência da realidade é constante objeto de disputa. O segundo objetivo é demonstrar o argumento através da análise do fenômeno específico da gestão estatal da pandemia de Covid-19 no Brasil, descrevendo como o discurso pró-ciência, inicialmente utilizado para legitimar quarentenas restritivas, passou paulatinamente a justificar as reaberturas e flexibilizações em supostos cenários de estabilidade no número de mortos e de novos casos. Este movimento lançou vozes dissonantes a uma condição análoga à experimentação alucinatória da realidade.info:eu-repo/semantics/openAccessPrograma de Pós-Graduação em Antropologia Social - IFCH-UFRGSHorizontes Antropológicos v.27 n.59 20212021-04-01info:eu-repo/semantics/articletext/htmlhttp://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832021000100129pt10.1590/s0104-71832021000100007 |
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Resumo O primeiro objetivo deste ensaio é delinear os fenômenos tidos como alucinatórios, essencialmente indistinguíveis da realidade, apresentando a forma como a definição do que chamo de mundo-em-si, externo ao indivíduo e alheio às simbolizações que se lhe podem atribuir, constitui-se como uma disputa pela própria substância da realidade. Discursos da saúde mental tornam-se privilegiados para a definição sobre quais mundos existem ou não, e a imanência da realidade é constante objeto de disputa. O segundo objetivo é demonstrar o argumento através da análise do fenômeno específico da gestão estatal da pandemia de Covid-19 no Brasil, descrevendo como o discurso pró-ciência, inicialmente utilizado para legitimar quarentenas restritivas, passou paulatinamente a justificar as reaberturas e flexibilizações em supostos cenários de estabilidade no número de mortos e de novos casos. Este movimento lançou vozes dissonantes a uma condição análoga à experimentação alucinatória da realidade. |
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