O Plano de Desenvolvimento Sustentável - Zoneamento Econômico Ecológico da área de abrangência da Rodovia Br-163 e a segurança alimentar da população do Norte do estado do Mato Grosso - uma questão esquecida?

A abertura da Rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163), em 1973, representou uma oportunidade de integração nacional e expansão das atividades econômicas e, ao mesmo tempo, um dos episódios mais sofridos da história recente do nosso país. Diante da ausência de qualquer esforço consistente de planejamento, implicou na instalação de frentes de colonização e de ocupação econômica que promoveram migrações desordenadas, desflorestamento e exploração predatória dos recursos naturais, além de significativas perdas de vidas humanas, do que foi exemplo notório o genocídio que vitimou o povo Panará, que habita a região desde tempos imemoriais. Esta rodovia, não pavimentada, serve muito pouco ao desenvolvimento econômico da região afetada e do país, tendo em vista a sua inutilidade durante boa parte do ano devido às chuvas, que a tornam intransitável, precisamente no período subsequente ao da colheita da produção agrícola, apresentando, portanto, baixíssimo benefício comparado com seu alto custo econômico, social e ambiental. Por esta razão, a perspectiva da sua pavimentação nos parece uma providência racional e desejável, longamente reclamada pelas populações que hoje vivem em sua área de influência, que dela necessitam para o escoamento dos seus produtos e para a atenção às suas demandas de assistência básica. No entanto, a implementação desta obra pública de grande envergadura, envolvendo extensas regiões de três unidades da federação, coloca-nos preocupações elementares quanto às consequências socioambientais que possam advir de processos de migração desordenada, grilagem e ocupação irregular de terras públicas, concentração fundiária, desmatamento, desertificação, aumento da criminalidade e agravamento das condições sanitárias, tendo em vista a quase total ausência dos poderes públicos na região. Esse estudo visa alertar aos planejadores, da necessidade de preocupar-se também com a produção de alimentos básicos como o arroz, feijão, milho e mandioca, originários das pequenas áreas ocupadas por agricultores familiares, principalmente nos municípios pertencentes à área de influência da rodovia BR 163, no Estado do Mato Grosso, que garantam a segurança alimentar das populações já existentes, bem como, aquelas, que, com certeza, já migraram ou ainda migrarão, para essa nova fronteira do desenvolvimento inter-regional brasileira, com o advindo das obras do asfaltamento dessa rodovia de integração nacional para escoamento de commodities vindas principalmente do Estado do Mato Grosso, sendo as mais importantes: a soja, o algodão e a carne, que vem sendo produzidas em grande escala em áreas de grande biodiversidade e densas florestas. Essa preocupação parece importante, pois apesar de planos desenvolvidos por técnicos como o Plano BR-163 sustentável, estudos de cenários sócios ambientais realizados pela antiga Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia ? SUDAM, hoje, Agência do Desenvolvimento da Amazônia-ADA, financiados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUD no início da década de 2000 (Projeto BRA/96/025), a partir de trabalhos de vulto como: Cenários Sociais para Amazônia Legal e Diagnóstico e Cenarização Macrosocial da Amazônia Legal: tendências demográficas recentes da região amazônica, pouca ou quase nada é mencionado em relação à questão da seguridade alimentar dos habitantes locais e potenciais dos municípios de abrangência dessa vasta região.

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Main Author: NASCIMENTO JUNIOR, J. de D. B.
Other Authors: JOAO DE DEUS BARBOSA N JUNIOR, CPATU.
Format: Artigo de periódico biblioteca
Language:pt_BR
por
Published: 2013
Subjects:ZEE, Mato Grosso, Desenvolvimento Sustentável, Segurança Alimentar,
Online Access:http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/968579
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